segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Mulheres em armadura e o machismo nosso de cada dia

Ok, vamos lá. Muitos dos jogadores de RPG ainda são fomentadores de um processo machista em mundos de campanha, mesmo sem saber. O mundo de Tormenta que o diga. 


Eu sei que tem muita gente que gosta de Tormenta, mas a sensualização desnecessária tanto das personagens femininas humanas como as de outras raças bizarramente distintas (onde o macho é uma bizarrice ao olho humano e a femea é uma mulher de corpo escultural só com umas orelhas diferentes aqui e uma cauda diferente ali), transforma o cenário em mais um local propício para um HENTAI que para alguma aventura interessante. Desculpe-me  da sinceridade, mas a forma como as mulheres são tratadas como objetos por esses autores passa dos limites.
Com relação a outros filmes, desenhos ou mesmo ilustrações de cenários de campanha que insistem em dizer que um bikini de metal é uma armadura completa, realmente é brochante. Como dá pra imaginar que uma mulher que iria viver de ser esfaqueada, cortada, furada, apedrejada e outras coisas - como normal de sua profissão de aventureira, deve esperar se defender disso com apenas uma faixinha de metal que protege apenas as partes íntimas (para que não seja considerada 18+)?
.

Todas essas indagações eu trago não somente pela objetificação da mulher nos mundos de fantasia, como o rol que ela possui. Dentro do meu cenário de Tresmundos, tento me desfazer um pouco disso em algumas culturas - as que não são machistas ou misógenas em demasia, colocando as mulheres como parte importante tanto quanto o homem da construção da história e dos direcionamentos de seu povo. Isso para mim é uma tentativa arriscada, pois todos os livros de fantasia que conheci até hoje se baseiam na opressão ao feminino cristão, que está encalacrado em nossa cultura e também na época medieval da qual temos história, visto que teriam sido o "povo vencedor"; cristandade européia que escreveu a história como conhecemos como melhor lhe apeteceu em seu momento.
Espero não ter me extendido ou abordado temas demais a ponto de ser confuso, mas apenas deixo aqui duas importantes indagações, sendo a primeira que o mundo de fantasia de Tresmundos irá ir em contra a toda essa mesmisse cristã que estamos acostumados na fantasia medieval. A outra é a espera de uma reflexão dos rpgistas como consumidores e potenciais críticos das obras de fantasia medieval independente de sua linguagem, que possam refletir sobre essa aberração que são os biquínis de malha, e esse machismo velado que segue existindo.

Abaixo deixo dois links para inspirar ilustradores e escritores, com boas imagens de mulheres usando armaduras mais verossímeis.






10 comentários:

  1. Muito interessante este pergaminho.

    Também sou totalmente contra a sensualização e imbecilização da figura feminina em cenários de fantasia,coisa que foi tristemente muito usada em cenários nacionais até por questões comerciais.

    Quem está acostumado com a obra do mestre Tolkien sabe que há como mulheres guerreiras se mostrarem realmente valorosas no campo de batalha sem precisar liderar exércitos com metade da roupa faltando. E mais do que isto, que as mulheres não precisam estar lutando berrando como homens protegidas por seus poderosos biquíni de cota de malha para serem importantes; Lúthien, por exemplo, teve um papel importantíssimo em o Silmarillion sem sequer saber segurar uma espada.

    Não se trata de valores cristãos nem nada do gênero. Trata-se simplesmente de respeito com TODOS os que acompanham sua obra e com a obra em si, que sendo realmente bem feita, não precisa apelar para este tipo de ardil para chamar atenção de uma forma muito depreciativa.

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    1. Sim, nobre. Realmente são prováveis questões comerciais que levaram o TORMENTA a essa triste escolha. Com relação ao Tolkien, óbvio que não tenho nem como tecer algum comentário contra a obra de um mestre como esse, ainda mais por não a conhecer por completo. É importante lembrar-se também que a época em que seus livros foram escritos era outra, onde o feminismo apenas engatinhava e o simples fato de termos heroínas em seus livros já é visionário.
      Com relação aos valores cristãos eu talvez não tenha sido muito claro, mas digo que por exemplo, o fato de não termos na maioria dos cenarios de campanha cavaleiros/paladinos ou líderes militares mulheres, isso sim é um reflexo de uma sociedade cristã que sempre oprimiu as mulheres nesses postos. Por isso mesmo que está aí o estereótipo da mulher frágil e vingativa, que sempre será uma assassina sedutora, pois o veneno é a arma dos indignos, segundo esse raciocínio.
      Digo isso principalmente por que se você ver por exemplo, as sagas islandesas, você vê que as mulheres descem porrada em todo mundo assim como os caras, se resguardando no período de gestação apenas. Não estou criticando ou sendo maldoso com os cenários de fantasia que temos por aí, somente disse que eles são mais baseados na nossa história medieval européia e cristã, do que qualquer outra cultura; e é justamente isso que eu quero fugir.
      Espero ter sido mais claro agora, e grato pelo comentário!

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  2. Não diria que o problema seja tão profundo a ponto de ser uma herança do cristianismo e medievalismo. Tolkien foi inspirado por ambos e a obra dele é imaculada, sem qualquer sexualidade ou sensualidade explícita.

    Para mim, a origem está nos pulps e romances baratos que permearam a fantasia entre 1930 e 1950. Veja Conan, mesmo os contos originais de Howard e você entenderá. O público masculino era a audiência predominante e o apelo erótico predominou mesmo nas publicações mais consagradas. O mesmo vale para o público do RPG, composto em sua maioria de homens.

    Entenda: não estou justificando isso. Eu acho muito chauvinista esse apelo erótico e concordo contigo neste ponto. Apenas acho a origem um pouco mais comercial e menos religiosa ou social.

    Finalizando: a reação feminista máxima na literatura de fantasia pode ser encontrado na série "Brumas de Avalon". Lá mulheres eram sacerdotisas, guerreiras, espiãs e os homens apenas pilhas de musculos escrotas que pensavam que mandavam em alguma coisa na Inglaterra.

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    1. Talvez minha falta de eloquência tenha sido a causa do desentendimento. Quando disse de Tolkien, quis dizer que ele se baseou basicamente na história medieval européia e cristã, e por isso seu mundo possui uma questão de linhagem patriarcal, pessoas brancas (ao menos onde acontece a maior parte das histórias), e coisas do gênero. Até mesmo o formato da espada que um guerreiro carrega é reflexo de onde o autor se inspira. E se dei a entender mal, em nenhum momento quis dizer que basear-se na cultura européia e medieval era ruim, só que eu quero fugir disso.
      Com relação a questão comercial, concordo plenamente que tem origem em Conan e outros títulos justamente por ser uma leitura na sua época reconhecida como "masculina".
      Agora, com relação a série das Brumas de Avalon, ela transfere poder às mulheres, mas ainda em uma sociedade machista. Acho que não consegui separar bem esses conceitos no texto, mas por exemplo, a Brienne de Game of Thrones, apesar de ter uma abordagem interessante na série, ela sofre por estar inserida em uma sociedade machista (e fazendo trabaho de "homem"), o que seria bem diferente de estar (no caso de TORMENTA) batendo em todo mundo com seu biquini de malha, ou ainda lutando contra o machismo (como no caso de um bruxa em Brumas de Avalon) mas ainda exercendo um papel de "mulher" na sociedade. Não sei se fui claro nesses três exemplos...
      Enfim, agradeço o seu comentário, e acho que mais importante que o post, é a interação e a discussão a respeito desses temas, e por isso agradeço novamente.

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    2. Entendi melhor o que você quis dizer. Concordo com sua colocação sobre Brumas de Avalon também. Olhando o link que você postou entendi melhor a proposta.

      Sugiro, então, este link aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_women_warriors_in_folklore

      Engraçado ver como as melhores guerreiras folclóricas são provenientes de povos ditos bárbaros (como Celtas e Nórdicos). Sem dúvida, se as mulheres da Fantasia de Espada & Magia fossem assim representadas, teríamos algo muito mais interessante e (por que não?) justo.

      Talvez Dragonlance tenha bons arquétipos femininos num mundo fantástico. Lembrando que a trilogia de Dragonlance foi co-escrita por uma mulher.

      Valeu pela reflexão! Não tinha pensado muito nisso... sabia do apelo erótico, mas nunca procurei um substituto para tal.

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    3. Agradeço você pela contribuição e principalmente pelo link, que será muito útil pra mim!

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  3. Entendo o ponto de ambos, e há verdade em tudo o que foi dito até aqui.

    Este é um tema deveras polêmico, e há diversas maneiras de se expô-lo. Eu, por exemplo, acredito que haja espaço de honra e valor para homens e mulheres, mas considero que cada um possui sua maneira de fazer sentir sua presença. Meu elogio a Tolkien é justamente em relação a isto; as mulheres agem como mulheres e se fazem respeitar por isto, não precisando nem agir como homens e nem usar seus corpos para conseguir alguma atenção.

    Ótimo post, e gostei muito de vossas colocações também.





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    1. Grato pela contribuição, e fico feliz de estimular tantas reflexões sobre o tema.

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  4. Realmente, o post foi muito interessante.

    Como um libertário, eu defendo até as dragoas-caçadoras de tormenta. hahaha!

    Na minha opinião, existe um nível de objetificação aceitável, inspirados nos pulps antigos mencionados pelo Taverneiro Louco. Afinal, um mestre pode muito bem querer recriar o clima desses romances, onde um bárbaro pega a indefesa mulher semi-nua e foge com ela nos ombros.

    Por outro lado, tem a objetificação que beira a caricatura. (Perfeitamente retratada nas imagens da postagem hehe). Para mim, mesas e cenários que abusam desse recurso perdem o respeito.

    Por fim, quero fazer duas ressalvas:

    Primeiro, como libertário eu critico o uso exagerado da objetificação, mas não censuro.

    Segundo, eu vejo que até o pior grau de objetificação feminina é um recurso e todo recurso pode ser bem ou mal empregado.

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    1. Compreendo sua posição, e também acho ruim uma ideia de censurar essa objetificação, só quero promover uma reflexão sobre, principalmente no que diz respeito ao meu cenário de campanha.
      De todas as formas, agradeço a contribuição no site e espero mais comentários.

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